Ao terminar este mês de Abril dedicado de modo particular a Santa
Catarina de Sena, quero apresentar uma visão que Santa Catarina teve e
que como dominicano não pode deixar de me impressionar e de colocar
algumas questões. Esta visão é relatada na “Legenda” que o Beato
Raimundo de Cápua escreveu sobre a vida de Santa Catarina e é da edição
francesa do final do século XIX que a retiramos.
“São Domingos
chamou-me miraculosamente a entrar na sua Ordem. Reconheço que não era
digno, mas seria um filho ingrato se passasse em silêncio a glória do
nosso Bem-Aventurado Pai. Devo portanto contar a revelação que Catarina
teve sobre ele. O irmão Bartolomeu, que está agora comigo, é que me
contou, tal como ela lhe tinha contado a ele.
Catarina assegurava que
tinha visto o Pai Todo-Poderoso produzir da sua boca o Filho, que é
co-eterno, tal como Ele era quando tomou a natureza humana. E enquanto o
contemplava ela viu o Bem-Aventurado Patriarca Domingos sair também do
peito do Pai, resplendente de luz. Ouviu então uma voz que dizia: Minha filha, muito amada, gerei estes dois filhos, um por natureza e o outro por uma doce e terna adopção.
Como
Catarina se surpreendeu com uma comparação tão elevada, que igualava um
santo a Jesus Cristo, Aquele que lhe tinha dito aquelas palavras
explicou-lhe: O meu Filho, gerado por natureza desde a eternidade,
quando se revestiu da natureza humana obedeceu-me em tudo perfeitamente
até à morte. Domingos, o meu filho por adopção, desde o seu nascimento
até aos últimos instantes da sua vida, seguiu em todas as coisas a minha
vontade. Jamais transgrediu algum dos meus mandamentos, nunca violou a
virgindade da sua alma e do seu corpo, sempre conservou a graça do
baptismo que o tinha regenerado.
O meu Filho por natureza, que é o
Verbo eterno da minha boca, anunciou ao mundo o que lhe tinha
encarregado de dizer, e deu testemunho da Verdade, como disse a Pilatos.
O meu filho adoptivo, Domingos, pregou também ao mundo a verdade das
minhas palavras, ele falou aos heréticos e aos católicos, não só ele mas
também por intermédio daqueles que o seguiram. A sua pregação continuou
nos seus sucessores, ele prega ainda e pregará sempre.
O meu Filho
por natureza enviou os seus discípulos, o meu filho por adopção enviou
os seus religiosos, o meu Filho por natureza é o meu Verbo, o meu filho
por adopção é o seu arauto, o ministro do meu Verbo. Também eu dei de
modo particular a ele e aos seus religiosos a inteligência das minhas
palavras e a fidelidade de as seguir.
O meu Filho por natureza tudo
fez pelos seus ensinamentos e pelos seus exemplos para procurar a
salvação das almas, Domingos meu filho por adopção fez todos os esforços
para arrancar as almas dos vícios e do erro. A salvação do próximo foi o
seu principal objectivo quando estabeleceu e desenvolveu a sua Ordem.
Também
Eu o comparo ao meu Filho por natureza, de quem ele imitou a vida e por
isso tu vês que o seu corpo se assemelha ao corpo sagrado do meu divino
Filho”.[1]
Hoje
continuamos a ser indignos servos, como se reconhece Raimundo, mas
devíamos interrogar-nos sobre o que fizemos com a fidelidade e a
inteligência da Palavra.
[1] BEATO RAIMUNDO DE CÁPUA – Vie de Sainte Catherine de Sienne. Paris, Librairie Poussielgue Frères, 1877, 189-190.
Fonte: http://vitaefratrumordinispraedicatorum.blogspot.com.br/
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