segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

“Se você não puder alimentar cem pessoas, alimente pelo menos uma.” 
[Madre Teresa de Calcutá]

"Dê-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, método e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância para falar. Dê-me, Senhor, acerto ao começar, direção ao progredir e perfeição ao concluir” 
[São Tomás de Aquino]

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

(carta 197) As tentações do diabo, do mundo e da carne


(carta 197) As tentações do diabo, do mundo e da carne

Para Mateus de Orvieto
Saudação e objetivo
Em nome de Jesus Cristo crucificado e da amável Maria, caríssimo irmão e filho no doce Cristo Jesus, eu Catarina, serva e escrava dos servos de Jesus Cristo, vos escrevo no seu precioso sangue, desejosa de vos ver como pedra firme, e não como folha levada por todos os ventos.
Três perigosas dificuldades
Porque a pessoa que não está alicerçada na rocha viva, que é Jesus Cristo – pondo o seu desejo somente em Deus e não nas realidades transitórias do mundo que passam como o vento – desanima por estar privada da graça divina. A graça conserva a alma, concede-lhe a vida e perfeita iluminação nas trevas, grande paciência, temor de Deus, humildade e amor fraterno pelo próximo. Essa pessoa não se impacienta sob o impacto das tribulações, nem falsamente sente-se feliz ao sopro das consolações espirituais, nem inflada de orgulho por causa da riqueza e da fumaça das honrarias humanas.
Nada disso lhe acontece, porque é firme. Seu alicerce é Cristo crucificado. A pessoa nem se preocupa com o sopro das três ventanias principais, causadas pelo diabo, pelo mundo e pela carne.
As tentações do diabo
Em primeiro lugar, do diabo procede a ventania de numerosas imaginações e tentações. A tentação de vaidade torna o coração leviano, imaturo, com forte desejo de alcançar altas posições no mundo; e que às vezes se apresenta em coloração de virtude. Essa é a pior ventania que se conhece. Somente a pessoa humilde não se deixa enganar por ela. A coloração de virtude, dada pelo diabo, é esta: a pessoa é maldosa e desprovida de virtude, mas tem um começo de desejo das coisas de Deus e dá algum sinal de virtude. Mas é ainda imperfeita, sem conhecimento de si e põe-se a investigar sobre a vida alheia, tanto material como espiritualmente. Então o diabo sugere um julgamento falso. A pessoa começa a julgar maldosamente o próximo, os servos de Deus e os amigos do mundo. E nem percebe o que o faz. Por que não percebe? Porque o diabo disfarçou o seu julgamento com o manto da virtude e a pessoa acha que faz o bem. Parece-lhe obter um duplo efeito, muitas vezes, como de estar fazendo um ato de culto a Deus. Mas engana-se porque age por orgulho. Se ela fosse humilde e se baseasse num conhecimento verdadeiro de si mesma, envergonhar-se-ia de emitir tais julgamentos; compreenderia que impõe regras a Deus. De fato, é o que faz ao criticar os servidores de Deus, ao querer orientar as pessoas segundo suas idéias e não como Deus as chama.
É por isso que a pessoa alicerçada na rocha viva, que é Cristo, oporá resistência a tais atitudes e, com muita humildade, procurará alegrar-se e glorificar a Deus pelos costumes e comportamentos dos seus servos; e, ao mesmo tempo, pedirá à misericórdia divina que olhe com piedade para aquelas pessoas, tirando-as do pecado e reconduzindo-as à virtude. Dessa maneira a pessoa tira uma rosa do espinheiro, conserva pura sua alma, sem dar asas à imaginação e enchendo à memória de fantasias sobre coisas espirituais e materiais. Isso fazem pessoas loucas, tolas e presunçosas que nada viram e investigam comportamentos alheios, de como fazer o bem. Essas se deixam levar pela ventania do diabo, tão perigosa. Ó boca maldita, como envenenaste com teu mau hálito o mundo, as pessoas do mundo e de fora dele, como ficou dito antes. Após julgar mal dentro de si mesma, tal pessoa, vazia põe-se a criticar, escandalizada com as coisas de Deus e do próximo. Uma pessoa assim deve ser evitada com santa prudência.
As tentações do mundo
Outra perigosa e perversa ventania é a do mundo. Consiste no egoísmo desordenado da pessoa complacente consigo mesma e que procura consolações e prazeres. Com o pensamento, ela esconde as trevas, a miséria e a transitoriedade do mundo, imaginando-o belo e agradável. Desse modo engana-se, imaginando que a vida é longa, quando na realidade é breve. Os prazeres, as consolações e a riqueza são vistos como coisas definitivas, e no entanto são mutáveis. Tudo nos é dado como empréstimo, para uso nas necessidades. Uma coisa é certa! Ou tais realidades são tomadas do homem, ou o homem é tomado delas. São retiradas de nós quando às vezes as perdemos, quando alguém no-la rouba ou por outros acontecimentos que as destroem e elas cessam. Digo que nós somos retirados dessas coisas, quando Deus nos chama, separando a alma do corpo. Então deixamos o mundo com seus encantos. E tal separação, nenhuma riqueza e nenhum poder conseguem evitar.
Dessa maneira a alma fraca e cega, que não elevou eu olhar acima da terra, como uma folha vai seguindo a ventania do próprio desordenado amor egoísta por si e pelo mundo. Da sua maldita boca saem, então palavras de inveja contra o próximo e murmuração, com elevada reputação de si. Muitas vezes com ódio e rancor contra o próximo. Muitas vezes, a pessoa se apossa de coisas alheias, com juramentos, perjúrios e falsos testemunho. Chega-se até a desejar a morte do próximo. Tendo o dever de amar todo mundo, a pessoa se transforma num devorador da carne e dos bens do próximo. Inteiramente volátil, poucas vezes completa um ato de virtude começado. A vida foi montada sobre a areia, onde edifício algum pode ser construído, sem logo cair por terra. Tal pessoa não possui a graça divina, perdeu a luz da razão. Caminha como animal, não como ser racional.
Por conveniência e necessidade, precisamos estar alicerçados na rocha viva. As pessoas que nela põem seu pensamento e seu amor não podem ser abaladas nem se deixam abalar por essa ventania maldosa do mundo. Tais pessoas até lhe opõem resistência e se defendem, desprezando o mundo com sua vaidade e seus prazeres. Elas eliminam o orgulho  com grande humildade e desejam a pobreza voluntária. E quem possui riqueza e alta posição social, conserva-as, mas  com amor e santo temor, como despenseiro de Cristo, socorrendo os pobres, ajudando os servidores de Deus, respeitando-os, compreendendo que eles se dedicam à oração com anseios, suores e lágrimas diante de Deus, a favor de todos. Estes vivem felizes sempre e em todas as situações, uma vez que se libertaram da desordem da vontade e do egoismo. Sendo tão importante esse alicerce na rocha, não se deve esperar para consegui-lo, pois desconhecemos o futuro.
As tentações da Carne
A terceira ventania consiste na tentação da carne. Ela espalha um mau cheiro intolerável, não apenas para Deus, mas também para os demônios, tornando a pessoa bestial. Torna-se como os animais, sem vergonha. Como o porco, a pessoa revolve-se na lama, na lama da desonestidade. Em qualquer estado de vida esteja, arruina-se. Se é casada, envenena o amor matrimonial. O que deve fazer com temor de Deus, ela o faz com amor desordenado e pouco honesto. Essas miseráveis pessoas não pensam na grande dignidade a que chegou a própria carne humana na união com Deus em Cristo. Se refletissem, prefeririam morrer e não se entregarem a tão grande baixeza. Sabes a que ponto chega esse mau hálito, que envenena todos os que de tal pessoa se aproximam? O coração da pessoa se torna suspeito, a língua murmura e blasfema, achando que existe nos outros a mesma coisa que existe nela. A pessoa assemelha-se a um doente, que estragou o próprio estômago. Ela acha ruim, como algo estragado, não somente o alimento normal, mas também aquele que o médico lhe prescreveu. E maravilha-se de que uma pessoa sadia, que come seu alimento, não sinta o mesmo sabor que ela sente. Assim os pecadores, que se entregam ao prazer da carne, arruinam a própria sensibilidade e a da comunidade dos que vivem no mesmo vício, e ficam escandalizados relativamente aos justos. Escandalizam-se até do próprio matrimônio, que Deus lhes deu como condescendência à sua frágil enfermidade, a própria esposa. Tendo um coração desordenado, até o amor da esposa lhe faz mal. Ciúmes e suspeitas fazem tais pessoas julgar má uma pessoa reta, e passam a odiar e desprezar o que deveria ser um justo amor. Em tal pessoa há um modo de ver. É seu olho que está doente. Não fosse assim, julgaria de outro modo. Oh! Quantos defeitos e inconvenientes procedem dessa ventania da carne! É algo que corrói por dentro. Como o mau hálito sai da boca, assim a pessoa julga mal a própria esposa. Disso deriva um outro defeito: se por inspiração divina ocorre à pessoa um bom desejo de corrigir-se e de viver bem o matrimônio, o verme da suspeita já penetrou no seu corpo e apaga o perfume da virtude, e sua podridão renasce. O que antes agradava à pessoa, passa a desagradar-lhe. Não tem constância, nem perseverança na virtude. A pessoa volta atrás, não examina o próprio erro e a própria doença (espiritual). E tudo isso sucede porque falta ao pecador  o alicerce na rocha viva ao ser atingido e forçado pela ventania da carne. É preciso que a pessoa se livre do apodrecido alicerce da impureza, fundamentando-se na rocha viva, Cristo. Então, a ventania da carne não a prejudicará. Ao contrário, poderá resistir com a virtude da continência e da pureza, disciplinando a vontade mediante a razão e o desejo santo, dizendo a si mesma: “Envergonha-te minha alma, por enfeares o teu rosto e corromperes teu corpo na impureza. Foste feita à imagem e semelhança de Deus. E tu, carne, foste elevada a uma altíssima dignidade na uniã da natureza divina com a humana (em Cristo) e foste elevada acima de todos os coros dos anjos”. Então a pessoa sentirá o perfume da virtude e o desejo de remediar com a vigília de oração e o conhecimento de si mesma. Ninguém se oponha ao conhecimento de si mesmo, mergulhando a mente em fortes imaginações e movimentos fisicos que ocorreram. O conhecimento de si será uma água que apagará a chma dos movimentos impuros. Que a pessoa não tenha medo de pegar a cruz, nela apoiar-se e navegar com os meios acenados antes, fundamentando-os na rocha viva, com firmeza e perseverança até a morte. Todos percebem que a perseverança é a que obtém a coroa.
Exortação e conclusão
Caríssimo irmão e filho, quero que vos liberteis da falta de perseverança e comeceis a entrar em vós mesmo. Conforme se vê diante de Deus, parece-me que desde algum tempo não pensais em vós mesmos. Tudo isso acontece porque o alicerce não foi bem construído nem fundamentado na rocha viva. Não por outro motivo acontece que os servos de Deus não perseveram; é a falta de perfeitos fundamentos. Como são fracos, desprovidos da virtude da fortaleza e sem a proteção da prática da virtude, ao serem atingidos pelas fortíssimas ventanias do diabo, do mundo e da carne, caem. Por isso, pensando nos remédios para vossas quedas, na necessidade que tendes de tomá-los e de refazer com grande humildade e desapego de vós mesmo o fundamento (da vida espiritual), afirmei que estava desejosa de vos ver como pedra firme, alicerçada na rocha viva que é Jesus Cristo, e não assentada na areia. Espero, na infinita bondade divina, que aceiteis com humildade a procura do conhecimento de vós mesmo e que cumprais a vontade divina e o meu desejo: que recupereis a vida da graça, vos livreis das trevas e tenhais a perfeita iluminação.
Nada mais acrescento. Permanecei no santo e doce amor de Deus. Jesus doce, Jesus amor.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

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"Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu filho unigênito para que todo aquele que n'Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna."
João 3:16 - Bíblica


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

(carta 83 ) A fé na vida do Cristão



(carta 83 ) A fé na vida do Cristão


Carta de Santa Catarina de Sena para o carcereiro Conte

Saudações e objetivo
Em nome de Jesus Cristo crucificado e da amável Maria, caríssimo filho(1) no doce Cristo Jesus, eu Catarina, serva e escrava dos servos de Jesus Cristo, te escrevo no seu precioso sangue, desejosa de te ver iluminada pela fé, que nos mostra o caminho verdadeiro.
Fé, amor e humildade andam juntas
Sem a iluminação da fé, nenhuma prática religiosa, desejo ou atividade produziriam frutos e nós, levando-nos à perfeição ou fazendo-nos avançar na caminhada que iniciamos, em busca de um determinado fim. Tudo seria imperfeito e vagarosamente progrediríamos no amor a Deus e ao próximo. A razão é esta: a fé corresponde ao amor e o amor corresponde a fé. Quem ama é fiel à pessoa amada, e preta-lhe serviços até à morte. Filho caríssimo, a iluminação da fé conduz a pessoa à salvação, afasta-a da lama do pecado, liberta-a das trevas do egoísmo. Com a iluminação da fé, a alma sabe o que é agradável a Deus e o que é pernicioso à própria santificação. A fé viva faz a alma saber que toda culpa é castigada e que toda virtude é premiada. Assim a pessoa pratica o bem, evita o mal e com muito esforço persevera até a morte. O demônio, as pessoas, a fraqueza da carne nunca conseguem fazê-la retroceder, justamente por causa da luz da fé presente na alma. Para que a alma atinja a perfeição, ocorrem muitos exercícios espirituais, um desejo apaixonado e profunda humildade. Esta última adquire-se na cela do autoconhecimento mediante uma oração contínua, humilde e fiel, em meio a muitas contrariedades causadas pelo demônio, pelas pessoas, pela própria perversa vontade e pela fraqueza da carne, que sempre luta contra o espírito. Mas a tudo isso a alma resiste com a iluminação da fé: crê qualquer que seja a maneira pela qual Deus os permita. A pessoa já não escolhe tempos, lugares e fadigas em conformidade com o próprio gosto, mas segundo a vontade divina, que apenas deseja a nossa santificação.
A fé perfeita purifica a alma no sangue de Cristo
Mas por que permite Deus tantas dificuldades? Permite para experimentar a virtude, fazer-nos reconhecer nossa imperfeição, termos consciência dos auxílios que ele nos concede nas tentações e dificuldades, experimentarmos a chama do seu amor, presente em nossa vontade durante as lutas e tentações. Tal conhecimento elimina a imperfeição da fé na alma. Após longa caminhada, a fé da alma torna-se perfeitíssima.
Essa iluminação perfeitíssima afasta da mente humana todo escrúpulo. Tanto na hora das tentações, quanto no caso de cair em pecado grave, qualquer que seja. É que na luz da fé, a alma se apoia na clemência, na chama ardente e no abismo da caridade divina. A pessoa estende os braços da sua esperança e com ele agarra-se fortemente aos méritos do sangue de Cristo, no amoroso fogo divino. Apoiada numa contrição perfeita, a pessoa se humilha diante de Deus e diante do próximo por amor a Deus, considerando-se o mais vil dos seres. Desse modo, pela contrição e a esperança, o sangue de Jesus apaga a culpa da alma. como se vê, foi a luz da fé que inseriu na alma o sangue de Cristo e a fez atingir grande perfeição, grande amor na chama divina. Com o bom Gregório(2), a alma pode dizer. “Ó feliz e bem aventurada culpa, que nos mereceu tão grande Redentor”!
E a culpa de Adão, foi feliz? Em si, não! Mas foi feliz no seu efeito, quando Deus Pai revestiu seu Filho da nossa natureza e lhe impôs a grande obediência, com que ele restituiu a graça aos homens. Qual jovem apaixonado, Cristo correu (em direção à cruz) a fim de pagar o resgate com seu sangue. A mesma coisa eu digo da alma. Não é feliz o seu pecado, mas sim o fruto que colhe no amor-caridade, mediante a grande e perfeita purificação nela operada na luz da fé, como expliquei antes.
A fé nos leva ao amor pelo próximo
Ainda, a fé faz crescer na alma o conhecimento (de Deus) e a humildade. Com alegria, a pessoa obedece aos mandamentos divinos. Com ódio (ao vicio) e ao amor (à virtude), ela se impõe o jugo da obediência, E logo, apaixonada, corre a dar a própria vida, se for necessário, para a salvação das almas. Na luz da fé a alma vê-se incapacitada de retribuir a Deus os favores dele recebidos. Entende que pode amar a Deus, mas sem lhe ser de utilidade. Deus não precisa de nós. Percebe, porém , a alma que pode ser de utilidade ao próximo, revelamos o amor que temos por Deus. É com tal ação que a pessoa revela-se a virtude está presente ou não na sua alma. Assim, apressa-se em obedecer e configurar sua vontade à vontade divina por meio do próximo. Sem nunca desistir disso, por qualquer motivo, até a morte.
A fé nos abre as portas do céu
Com a iluminação da fé, a pessoa recebe a garantia da vida eterna e se nutre de amor na chaga do peito de Cristo crucificado, divertindo-se em furtar as virtudes, a vida e a maturidade, que os eleitos do céu possuíam quando peregrinos na terra. A fé nos fornece, no sangue de Cristo, a chave parar abrirmos as portas da vida eterna. A fé leva a pessoa a confiar, não em si mesma, e sim no Criador. Está livre do vento do orgulho e da presunção pessoal. A presunção, o orgulho, a impureza e toda outra miséria espiritual procedem da falta de fé em Deus.
A presunção pessoal é um verme oculto nas raízes da alma. Se não for eliminado com muito empenho e humildade, corrói a árvore humana e a derruba. Muitas vezes a pessoa é tão ignorante em seu egoísmo, que nem percebe sua presença. Então Deus permite numerosas dificuldades e perseguições, de maneira que a árvore pessoal se contorça e até caia. Deus não quer o pecado, mas deixa a pessoa na liberdade de pecar, a fim de que entre em si mesma e, humilhada, ataque o verme da presunção e o elimine. Uma pessoa assim terá motivo para alegra-se, ao tomar consciência de algo que desconhecia em si mesma? Certamente!
Filho caríssimo! Sempre e em todas as situações, a pessoa santa ou pecadora, em estado de pecado ou de graça, precisa da iluminação da fé. Como são numerosos os inconvenientes de alguém não ter a luz da fé. Não o explico, porque seria muito longo. Seja suficiente o que ficou dito. De outro lado, como é útil e agradável ser iluminado por ela! Mas não sou capaz de dizê-lo em palavras ou por escrito. Que Deus vos dê a compreensão na sua infinita misericórdia. Quero que isso se realize. Por esse motivo afirmei que estava desejosa de ver em ti a luz da fé.
Recados para conte. Conclusão
Maravilhei-me pelas cartas que escreveste a Barduccio (Canigiani). De modo algum aceito que tu abandones a confraria, (3) a menos que entres numa ordem religiosa. Também não quero que sejas escrupuloso. Quero que, profundamente humilde, te tornes súdito do menor membro da confraria. Nem por isso deixarás de dizer aos membros dela a verdade que o Senhor te mostrar.
Agora, comecemos a usar os remédios descritos acima, para que o demônio da tristeza e dos escrúpulo não assalte nossa alma. A última situação seria pior do que a primeira (Lc 11,26) e seria grande ofensa a Deus.
Permanece no santo e doce amor de Deus Jesus doce, Jesus amor.
(1) Conte era o nome de um senhor, amigo de Catarina, que residia na cidade de Florença e cuidava de um cárcere. Lendo a carta, percebemos que se tratava de um cristão exigente com os colaboradores e com tendência a escrúpulos na vida pessoal
(2) Trata-se do papa são Gregório Magno (590-604). Catarina acrescenta à expressão do santo a palavra “bem-aventurada”. Expressão aliás baseada em Santo Agostinho.
(3) Existiam naquele tempo muitas confrarias, às quais os leigos se filiavam. Frei João das Celas (1310-1396), abade em Florença durante certo tempo, fundara uma confraria para leigos
"Todo mal é ausência de amor"
- Santa Catarina de Sena